Veja o que é e por que é tão importante capacitar a equipe e seguir os protocolos de Biossegurança hospitalar!
A biossegurança hospitalar é um desafio diário para os gestores. Com
a pandemia, a sua necessidade de reforço ficou ainda mais evidente. No entanto, ainda assim
diversas brechas nos procedimentos e na própria fiscalização no cumprimento de normas e
protocolos contribuem para a seriedade do problema.
A verdade é que os problemas de Biossegurança hospitalar são muitos - e muito
variados. Não
dizem respeito “apenas” à contaminação de materiais e infecções que podem afetar pacientes e
profissionais de saúde.
A biossegurança hospitalar também tem a ver com a manipulação de instrumentos, equipamentos,
paramentação e maquinários, que por erros humanos, mecânicos, elétricos, etc, pode colocar a
saúde em risco de qualquer pessoa no hospital.
Como o assunto é vasto e bastante complicado, é imprescindível informar e buscar soluções
efetivas para o dia a dia no ambiente hospitalar.
O que é biossegurança?
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a biossegurança é uma área do conhecimento definida como a “condição de segurança alcançada por um conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar, reduzir ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam comprometer a saúde humana, animal e o meio ambiente”.
Controle de ameaças
Dessa forma, a principal função da biossegurança é garantir que
qualquer procedimento assistencial, de ensino e pesquisa, seja seguro. Mas não apenas para os
profissionais que os estejam realizando, mas também para pacientes, quando houver, e para o meio
ambiente.
Ao mesmo tempo, no entanto, os protocolos de biossegurança devem ser pensados de forma a gerar
resultados de qualidade eliminando ou minimizando riscos, que podem ser mecânicos, químicos ou
biológicos.
Assim, as normas de biossegurança devem considerar os problemas de cada ambiente para criar
protocolos que anulem as ameaças à vida. É importante considerar que as falhas de biossegurança
podem gerar problemas dos mais diversos tipos e tamanhos, individuais, coletivos ou públicos -
como epidemias e pandemias.
Qual o foco da Biossegurança hospitalar?
As medidas de biossegurança devem ser adotadas em várias áreas, como
ensino, pesquisa, desenvolvimento tecnológico, prestação de serviços, produção de vacinas e
medicamentos, etc.
No entanto, quando falamos de Biossegurança hospitalar, o foco abrange,
basicamente, os cuidados
em cinco setores:
- Exposição de profissionais a agentes biológicos;
- Áreas hospitalares em geral e laboratórios;
- Qualificação e treinamento de equipe;
- Descarte do lixo hospitalar;
- Instalações e infraestrutura.
Assim, o principal foco da biossegurança é reduzir os riscos ocupacionais em ambientes que podem
trazer danos severos para a saúde. É preciso ter em mente que essas ameaças podem significar
desde pequenas interferências no bem estar até sequelas irreversíveis que prejudicam a qualidade
de vida dos colaboradores.
Os profissionais de saúde precisam lidar diariamente com compostos potencialmente perigosos. Por
isso, a biossegurança é um direito garantido por lei (Lei 11.105/2005) a esses colaboradores.
Assim, o empregador é legalmente o responsável pelo fornecimento de equipamentos e ferramentas
necessárias para garantir a Biossegurança hospitalar.
No entanto, a Biossegurança hospitalar também tem focos secundários, já que o
meio ambiente, por
exemplo, também é afetado por sua gestão inadequada. Dessa forma, o compromisso com a
responsabilidade ambiental é muito importante entre corporações e instituições de qualquer porte
que lidam com compostos químicos e biológicos.
EPIs e EPCs: qual a sua importância?
Quando o assunto é Biossegurança hospitalar, duas siglas são altamente
relevantes: EPIs
(Equipamentos de Proteção Individual) e EPCs (Equipamentos de Proteção Coletiva).
Ambos são formas indispensáveis de proteger tanto os profissionais de atendimento, pesquisa,
etc, quanto as pessoas que utilizam o hospital.
EPIs
A Biossegurança hospitalar na enfermagem é um bom exemplo da importância do
EPI. Essa
paramentação é mencionada nas normas regulamentadoras NR 6 e NR 32, protegendo os profissionais
contra acidentes que podem acontecer em uma simples coleta de sangue contaminado, por exemplo.
Por outro lado, é muito importante que o empregador garanta o nível de proteção do trabalhador
definido pelo fabricante. Para isso, é obrigatório que todos os EPI’s sejam entregues aos
colaboradores dentro da data de validade e que seja efetuada sua troca sempre que for constatado
algum dano ao material. Alguns exemplos de EPI são as luvas, máscaras, óculos de proteção,
aventais e gorros.
Da mesma forma, o descarte correto do EPI também é fundamental para manter um padrão eficiente
de Biossegurança hospitalar.
Esse descarte deve corresponder ao tipo, material com que é feito e ao risco agregado de
contaminação do equipamento de proteção individual.
A Norma ABNT NBR 10004:2004 divide o material em três classes. Equipamentos considerados
perigosos (Classe I) pela contaminação durante o uso não podem ser descartados no lixo comum.
Assim, geralmente o descarte final do EPI ocorre em aterros ou a partir da incineração, mas
sempre de acordo com a sua classificação. Etiquetas devem ser fixadas para facilitar o descarte
e impedir que eles sejam trocados. A identificação também serve para especificar o conteúdo, sua
classificação e o risco agregado.
EPCs
Já os EPCs são pensados para a proteção de toda a equipe. São equipamentos de biossegurança
hospitalar mais complexos, que dependem de uma boa estratégia e administração para serem
efetivos.
Alguns exemplos são as cabines de segurança biológica para contenção de agentes biológicos de
alto risco; autoclave, para esterilização de equipamentos; lava olhos, que permite uma
higienização de emergência nos globos oculares, etc.
Lei de Biossegurança
A Lei de Biossegurança (Lei 11.105/2005) estabelece normas e mecanismos de fiscalização
específicos. Considerada um ponto chave para os profissionais de saúde que lidam com
contaminantes, traz medidas de biossegurança para a segurança do trabalho em ambientes de
contenção com agentes e materiais biológicos.
Assim, a lei dispõe sobre a criação do Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) e a Política
Nacional de Biossegurança (PNB). Ela abrange diversos pontos em biossegurança relacionados aos
órgãos, fundos e tributos, rotulagem, penalidades, licenciamentos, soja transgênica, agrotóxicos
e embriões humanos.
Já a portaria nº 178 de 4 de fevereiro de 2009 faz a classificação dos agentes biológicos e traz
critérios para avaliação do risco biológico:
Classe 1, ou de baixo risco: agentes que sabidamente não causam doenças no homem ou animal sadio;
Classe 2, de médio risco: agentes que provocam infecção no homem ou animal, mas de propagação limitada;
Classe 3 de alto risco individual e moderada para a sociedade: agentes com capacidade de transmissão por via respiratória e com potencial de causar patologias potencialmente letais;
Classe 4 de alto risco individual e alto para a sociedade: agentes com grande potencial de transmissão para os quais não há medida profilática ou terapêutica eficaz, colocando em risco a vida de muitas pessoas.
Comissão de Biossegurança em Saúde (CBS)
Já a Comissão de Biossegurança em Saúde (CBS) elaborou um manual com medidas de biossegurança em
ambientes de contenção com agentes e materiais biológicos. São três níveis laboratoriais:
Laboratórios em nível 1 (NB-1): baixo risco e exige um nível básico de contenção;
Laboratório de nível 2 (NB-2): risco moderado, devendo adotar alguns equipamentos e oferecer
treinamento aos funcionários;
Laboratório de nível 3 (NB-3): alto risco, devendo adotar muitos equipamentos de proteção (EPIs
e EPCs).
Usar materiais descartáveis
Como são usados apenas uma vez, não podendo ser reutilizados mesmo se forem esterilizados, o uso
de materiais descartáveis reduz os riscos de infecções hospitalares.
Eles são indispensáveis para os profissionais que têm contato todo o tempo com os pacientes para
a proteção de ambos. O descarte correto também é muito importante para manter a eficiência
protetiva e evitar a contaminação.
Quais os principais riscos?
Um dos grandes desafios em Biossegurança hospitalar é que são várias as fontes
de riscos nos
mais diferentes ambientes. Além dos patógenos dos pacientes enfermos, há muitos outros fatores,
conheça alguns dos principais:
Biológicos - Bactérias, fungos, vírus e parasitas muito variados. A transmissão também é bem diversificada, podendo ser feita através do contato interpessoal (olhos, nariz e boca ou feridas na pele), com materiais contaminados ou mesmo de contaminação aérea. EPIs e EPCs podem reduzir ou mesmo evitar os riscos;
Físicos - Formas de energia cuja exposição pode ser prejudicial à saúde. Algumas delas são a radiação, vibração, calor, umidade e pressão anormal;
Químicos- Produtos ou substâncias que podem penetrar no organismo, desde compostos de limpeza a medicamentos que podem prejudicar a saúde.
Como aplicar a Biossegurança hospitalar?
O cumprimento das regras de Biossegurança hospitalar é fundamental para a proteção efetiva de profissionais, pacientes e acompanhantes. Elas devem ser aplicadas inclusive nas equipes terceirizadas, seja em tarefas contínuas ou pontuais. Há pelo menos três pontos cruciais que devem ter atenção reforçada:
1 - Desinfecção de ambientes
A desinfecção adequada de ambientes e superfícies pode reduzir ou até anular o risco de
contaminações cruzadas.
É muito importante que seja criado um manual especificando os protocolos para cada área
operacional, como ambulatórios, leitos, UTIs, centros cirúrgicos, laboratórios, salas de espera,
banheiros, etc.
Devem estar incluídos não apenas o chão, mobiliário e equipamentos, mas também janelas, paredes,
teto, cortinas e acessórios. Algumas das principais recomendações são:
Nunca varrer o chão a seco para não facilitar a dispersão de microrganismos. A varredura deve
ser úmida, seguindo o protocolo de ensaboar, enxaguar e secar;
Utilizar apenas produtos saneantes devidamente autorizados e fiscalizados pela Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária);
Limpar e higienizar instrumentos e equipamentos apenas com produtos indicados pelo próprio
fabricante/fornecedor.
2 - Descarte correto de resíduos
Além das recomendações de descarte dos EPIs, o gerenciamento correto dos resíduos em geral
também é fundamental para a Biossegurança hospitalar.
Classificados em cinco tipos diferentes, cada um também tem sua forma correta de descarte.
Grupo A: potencialmente infectante, com risco ou certeza de possuir algum tipo
de risco
biológico ou outro tipo de agente infeccioso. São recolhidos por empresas especializadas em
tratamento do lixo hospitalar;
Grupo B : resíduos químicos - tóxicos, inflamáveis ou corrosivos. Também são
recolhidos por
empresa especializada, porém nesse nicho específico;
Grupo C : resíduos radioativos, devem receber o tratamento de acordo com normas
específicas de
biossegurança;
Grupo D : lixo comum, coletado pelo serviço municipal de limpeza;
grupo E : são perfurocortantes: agulhas, lâminas de bisturi, etc. Precisam ser
descartados em
caixas especiais e coletados por empresa especializada.
3 - Capacitação da equipe multiprofissional
O treinamento da equipe é fundamental para que as ações de biossegurança sejam realizadas e
cumpram os protocolos de Biossegurança hospitalar.
A capacitação deve ser atualizada periodicamente, incluindo informações sobre o uso correto a
paramentação hospitalar (EPIs), manuseio de instrumentos e maquinários, lavagem de mãos,
higienização pessoal e ambiental, descarte de resíduos, etc.
Manual de Biossegurança da Anvisa
A Anvisa elaborou um Manual de Biossegurança como forma de contribuir para
o principal objetivo
de todo hospital: a prestação de serviços na área da saúde, com qualidade, eficiência e
eficácia.
O material traz informações, análises, sugestões e orientações referentes às atividades
sanitárias relacionadas à biossegurança, como controle de riscos resultantes de pesquisas ou
aplicações feitas com material biológico, além da adequação dos padrões de segurança e dos
processos de trabalho das instituições.
Assim, o manual é um instrumento que tem como principal desafio socializar informações
técnico-científicas e permitir o treinamento de profissionais de saúde nas boas práticas de
Biossegurança hospitalar.
Qual a importância da biossegurança no ambiente hospitalar?
A Biossegurança hospitalar pode ser um desafio, mas é fundamental para
preservar a saúde e a
vida de pacientes e profissionais de saúde. No entanto, há muitos outros desdobramentos que
beneficiam o meio ambiente e a sociedade de forma geral.
Para se ter uma ideia, além de preservar a saúde de todos os envolvidos, a biossegurança
hospitalar é capaz de reduzir os riscos de acidentes de trabalho nos hospitais, mas também
inibir doenças que podem desencadear pandemias.
Ao mesmo tempo, a biossegurança também é interessante economicamente para as empresas de saúde.
Através dela é possível reduzir custos com empregados afastados por conta de acidentes de
trabalho ou infecções hospitalares.
Afinal, mesmo uma simples gripe pode ser transmitida por um profissional infectado quando os
EPIs adequados não são usados.
Conclusão
A Biossegurança hospitalar deve ser prioridade de gestores e profissionais de
saúde. É preciso
criar e seguir a risca protocolos, capacitando e conscientizando a equipe sobre a importância de
cada procedimento.
Nesse cenário, os EPIs têm papel de fundamental importância, evitando as contaminações cruzadas
que são um dos maiores desafios em relação às infecções hospitalares.
Ao adotar e respeitar as boas práticas propostas pela biossegurança hospitalar é possível
reduzir contaminações e acidentes de trabalho, preservando a saúde de todos.