Veja como procedimentos simples e ações integradas podem ajudar sua unidade a ter maior controle sobre a taxa de infecção hospitalar.
Com a redução nos casos de Covid e, consequentemente, internações
relacionadas, as cirurgias eletivas que foram represadas durante a pandemia estão voltando a ser
realizadas. Nesse cenário, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), alerta sobre a
necessidade de implementar ações de prevenção e controle das infecções hospitalares.
De acordo com o Ministério da Saúde, estima-se em 14% a taxa de infecção hospitalar no Brasil.
No entanto, é possível reduzir as taxas de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (Iras)
nos hospitais com procedimentos relativamente simples.
Segundo a Anvisa, a adesão aos protocolos corretos pode reduzir em até 70% alguns tipos de
infecção hospitalar, como as relacionadas à corrente sanguínea.
O que é uma infecção hospitalar?
Nos últimos anos, a incorporação de novas tecnologias e métodos possibilitou que vários
tratamentos pudessem ser administrados também em ambiente domiciliar. Com isso, o próprio
conceito de infecção hospitalar foi ampliado, incorporando as Iras.
Dessa forma, a infecção hospitalar pode se manifestar durante a internação ou mesmo após a alta.
No entanto, ela deve estar relacionada com a internação ou a procedimentos realizados no
hospital.
No caso do paciente internado, a infecção hospitalar é a que aparece após 72 horas de
internação, quando não há evidência clínica ou dado laboratorial de infecção no momento da
internação e quando se desconhece o período de incubação do agente etiológico.
O que torna a infecção hospitalar um desafio ainda maior é que o próprio ambiente clínico
favorece seu aparecimento quando não há um controle efetivo. Geralmente estes microrganismos não
causam uma infecção em outro meio.
No entanto, a baixa resistência imunológica dos pacientes e a facilidade de contaminações
cruzadas em um ambiente com bactérias já muito resistentes aos antibióticos tornam os casos mais
graves.
Com isso, são necessárias drogas mais tóxicas e com mais efeitos colaterais, mas que acabam
sendo menos eficientes. Como resultado, as infecções hospitalares por esses germes
multirresistentes acabam tendo um alto impacto no aumento da mortalidade.
Como é feito o controle e prevenção da infecção hospitalar?
Há várias ações relativamente simples que podem prevenir e controlar
a infecção hospitalar. A higienização das mãos, por exemplo, é considerada a pedra fundamental
desses procedimentos. Mas apesar de fácil, barato e eficiente, é um processo ainda negligenciado
por muitos profissionais de saúde.
- Iras
As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde surgem pela interação
com os profissionais de saúde - como internação, cirurgias, procedimentos feitos em ambulatório,
cuidados domiciliares - podem se manifestar mesmo após a alta e também incluem as infecções
ocupacionais adquiridas pelos próprios profissionais de saúde.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cada 100 pacientes internados, pelo menos
sete em países desenvolvidos e dez em países em desenvolvimento irão adquirir Iras. No Brasil, a
estimativa da OMS é que entre 16 e 37 pessoas contraiam infecções a cada 1.000 pacientes
atendidos. O controle das Iras é feito através do CCIH (Comissão de Controle de Infecção
Hospitalar).
- CCIH
A Comissão de Controle de Infecção Hospitalar é um grupo, formado por profissionais de saúde da
própria unidade, que deve acompanhar e discutir com a equipe assistencial os casos de infecção
suspeitos e confirmados.
O objetivo é criar um refinamento dos dados coletados que, combinados com as características
epidemiológicas do hospital, possibilitem a elaboração de um programa de controle das Iras.
- Visitas ao hospital
As visitas ao hospital também devem seguir determinados protocolos para reduzir a taxa de
infecção hospitalar. Na entrada e na saída os visitantes devem higienizar as mãos com água e
sabão e álcool 70%. Este, aliás, deve estar disponível por todo o hospital. Todos os acessórios
(anéis, pulseiras, relógios) devem ser removidos na hora da higienização das mãos.
Os visitantes também não devem levar alimentos sem conhecimento e/ou autorização do médico ou do
nutricionista. Também não é recomendado levar flores ou plantas em geral, nem sentar no leito do
paciente e a visita de crianças deve ser evitada.
EPCs
Já os EPCs são pensados para a proteção de toda a equipe. São equipamentos de biossegurança
hospitalar mais complexos, que dependem de uma boa estratégia e administração para serem
efetivos.
Alguns exemplos são as cabines de segurança biológica para contenção de agentes biológicos de
alto risco; autoclave, para esterilização de equipamentos; lava olhos, que permite uma
higienização de emergência nos globos oculares, etc.
- Higienização das mãos
Apesar de simples, a lavagem das mãos deve obedecer um protocolo rígido, com ações em
determinada ordem:
Umedecer as mãos com água;
Usar sabão líquido;
Esfregar as palmas da mão uma na outra, e espaços interdigitais, esfregar o dorso e espaços interdigitais, esfregar dorso dos dedos, esfregar a ponta dos dedos na palma da mão, esfregar o polegar, e por ultimo o dorso;
Enxaguar com os dedos virados para cima, na direção da água que cai;
Não usar toalhas de pano, secar as mãos com toalhas descartáveis de papel e usá-las também para fechar a torneira, evitando o toque da pele com a pia, metais ou qualquer objeto.
- Uso de paramentação descartável
Assim como a higienização das mãos, o uso da paramentação descartável é um dos pilares do
combate à infecção hospitalar. Muito mais do que uma proteção primária, ela é fundamental para
evitar que germes e bactérias entrem em contato com o organismo do profissional e do paciente.
Os tempos de pandemia mostraram ainda mais a importância da paramentação descartável,
principalmente nos profissionais da linha de frente contra a Covid. Máscaras, aventais, luvas e
touca descartáveis são fortes aliados das equipes de atendimento.
Assim, a paramentação descartável deve estar de acordo com o nível de contaminação previsto ao
manusear equipamentos e/ou instrumentos de assistência ao paciente visivelmente sujos ou que
possam ter estado em contato com sangue ou fluidos corporais.
Além disso, o processo de paramentação e desparamentação deve ser observado com cuidado. É
preciso, por exemplo, evitar a contaminação de roupas e da pele durante o processo de remoção do
equipamento.
Já o avental deve ser usado sempre que a roupa tiver contato direto com o paciente, superfícies
ou equipamentos potencialmente contaminados nas proximidades.
Também é preciso higienizar as mãos sempre após a remoção do avental e antes de sair do ambiente
de atendimento. É muito importante que protocolos como estes sejam divulgados e utilizados por
todas as equipes, mas também devem ter seu cumprimento fiscalizado para reduzir as taxas de
infecção hospitalar.
Tipos de infecções
A infecção hospitalar é classificada de acordo com a forma como entram no organismo e com o tipo de microrganismo. Assim, há quatro tipos básicos:
Exógena
Causada por um microrganismo que não faz parte da microbiota do próprio indivíduo. Geralmente é adquirido em consequência de procedimentos, medicamentos ou alimentos contaminados ou pelas mãos dos profissionais de saúde;
Endógena
Causada pela proliferação de microrganismos do próprio indivíduo. É mais comum em pessoas com sistema imune comprometido;
Cruzada
É um tipo de infecção hospitalar comum quando existem vários pacientes na mesma UTI. Dessa forma
a transmissão de microrganismos entre as pessoas internadas é favorecida;
Inter-hospitalar Infecções que são levadas de um hospital para outro. Geralmente acontece quando
o paciente
adquire infecção no hospital em que teve alta, mas precisa ser internado em outro, levando
consigo a bactéria.
Principais infecções
Há vários tipos de infecções hospitalares. Algumas são mais comuns do que outras:
Pneumonia
A pneumonia é uma das infecções hospitalares mais habituais e também costuma ser grave. É mais comum em pessoas desacordadas, acamadas ou que têm dificuldades da deglutição e nas que usam dispositivos que auxiliam na respiração.
Infecção urinária
O uso de sonda nas internações facilita a infecção hospitalar urinária. Algumas das bactérias mais comuns são a Escherichia coli, Proteus sp., Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella sp., Enterobacter sp., Enterococcus faecalis e de fungos, como Candida albicans.
Infecção do sítio cirúrgico
É a que ocorre na incisão cirúrgica ou nos tecidos manipulados durante o procedimento cirúrgico.
Para ser classificada como infecção hospitalar deve ser diagnosticada até 30 dias após a data do
procedimento.
Podem ser incisional superficial (pele e subcutâneo, desde que não haja envolvimento de qualquer
tecido manipulado durante o procedimento), profunda (abaixo da fáscia muscular) ou de
órgão/cavidade ( tecidos profundos, manipulados durante a operação).
As causas mais comuns são por complicações de hipotermia cirúrgica, contaminação da área de
incisão pela flora cutânea, contaminação cruzada bacteriana ou contaminação por instrumento
cirúrgico.
Fatores que causam uma infecção hospitalar
A infecção hospitalar tem causa multifatorial. Por isso,o seu combate deve ser feito de forma
ampla, através de um conjunto de práticas que devem ser seguidas rigorosamente por todos os
colaboradores, mesmo os que não têm contato direto com os pacientes.
Alguns dos principais fatores causadores das Iras são:
Falha ou mal planejamento da estrutura hospitalar, implicando em problemas no sistema de
ventilação e de água, falta de pias na entrada ou dentro dos quartos para a lavagem das mãos
antes do contato com o paciente, pouca distância entre os leitos e má distribuição de papel
toalha e álcool em gel 70% pela unidade, por exemplo;
Pouca disponibilidade de funcionários, o que faz com que um colaborador atenda muitos pacientes,
aumentando as chances de contaminação cruzada;
Uso de medicamentos que podem desequilibrar a flora bacteriana do organismo e da pele e ainda
comprometer o sistema imunológico;
Doenças preexistentes, que reduzem as defesas naturais e aumentam a predisposição às infecções;
Uso de paramentação inadequada, não descartável, ou descarte inapropriado do EPI descartável;
Falta de higienização das mãos.
Conclusão
As infecções hospitalares são um desafio dos sistemas de saúde de todo o mundo, mas ações
simples, como a higienização das mãos e adoção de paramentação descartável podem reduzir os
índices de contaminação.
Por outro lado, é preciso que as unidades estabeleçam protocolos próprios adaptados às
características de cada hospital, promovendo a capacitação das equipes e sua reciclagem regular,
além de fiscalizar o cumprimento das normas.
Apenas com um esforço conjunto de todos os profissionais e a colaboração dos próprios pacientes
e visitantes esse desafio pode ser vencido.